quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Sopa da Pedra e Uma História Tradicional Ribatejana

A casa dos queridos pais sempre foi casa de muitas sopas, principalmente no Outono e no Inverno. A mãe justificava que nos dias em que o cansaço pesava ou em que os horários eram tardios, era um gosto chegar a casa e ter comida cheia de nutrientes pronta a aquecer e comer. E sempre assim foi na minha infância, adolescência e idade adulta em casa dos pais e é também assim cá em casa.

A sugestão desta semana é uma das nossas sopas preferidas e aqui, como em casa dos queridos pais, nunca dura mais de dois dias pois tem honras de prato principal. Faz parte da história de vida do pai ribatejano e do imaginário das histórias repetidas vezes sem conta pela mãe.

A Sopa da Pedra é um clássico da gastronomia tradicional portuguesa e a sua história foi sempre associada à cidade ribatejana de Almeirim. O conto popular diz que um frade pobre viajava em peregrinação e que sem dinheiro ou comida bateu à porta de um agricultor, pedindo uma panela para preparar uma sopa. O agricultor acedeu e emprestou-lhe uma panela de ferro. Sob o olhar do agricultor, o frade tirou do seu bornal (saco antigo para transporte de comida e pequenos géneros) uma pedra lisa, redonda e brilhante e mostrou-a como o seu ingrediente principal. Curioso, o agricultor convidou o frade a entrar e indicou-lhe a cozinha. Aí o frade colocou a panela ao lume só com a pedra e disse precisar molhar a pedra. A esposa do agricultor deu-lhe água. Depois o frade disse precisar temperar a sopa... E a esposa do agricultor deu-lhe sal, mas o frade sugeriu um pouco de chouriço ou toucinho. E o chouriço foi adicionado à pedra. Depois o frade disse que a sopa ficaria melhor um pouco mais grossa, com batatas, feijão ou sobras da refeição anterior... E a esposa do agricultor deu-lhe as sobras da refeição anterior, algumas batatas, cenouras e feijão. E assim se engrossou a "sopa da pedra". Depois de pronta, o frade, o agricultor e a esposa comeram juntos a sopa e no final, a pedra foi retirada da panela, lavada e novamente guardada no bornal do frade para a sopa seguinte.




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Nº Pessoas: > 4
Tempo Prep.:  45 min.
Dificuldade: * (Fácil)
Ingr. Principal: Vegetais
Vegetariano: Não
Para Crianças: Sim
Tipo Prato: Sopas
Festividade: N/A
Cozinha: Portuguesa

Ingredientes:
- Azeite q.b.
- Cominhos em pó q.b.
- Sal Marinho q.b.
- Pimenta Preta acabada de moer q.b.
- 1 lata de 845 gr de Feijão Encarnado (usei da marca portuguesa Compal da Horta, cujo feijão é
 cozido ao vapor em água e sal e não tem conservantes)
- 1 Lt de Água fervente
- 1/2 Linguiça (usei da marca portuguesa Alheiras Angelina, da região de Trás-os-Montes)
- 800 gr de Entrecosto
- Noz Moscada acabada de moer q.b.
- 5 Cenouras finas/ pequenas
- 8 Batatinhas Novas pequenas com pele
- 400 gr de Couve Galega (cortada em juliana fina)

 Também vai precisar de:
- Fervedor eléctrico 
- Panela de pressão
- Varinha mágica + copo
- Colher de pau
    
Preparação:

Ferva a água no fervedor eléctrico. Enquanto a água ferve, deite um fio de azeite no fundo da panela de pressão e uma pitada generosa de sal marinho e outra de cominhos moídos. Reserve.
Abra a lata de feijão encarnado, escorra parte da água de cozedura e deite metade do volume da lata para dentro do copo medidor da varinha mágica. Reserve a restante metade dentro da lata. Adicione um pouco de água fervente ao copo e reduza tudo a puré com a ajuda da varinha mágica. Deite na panela de pressão, usando mais um pouco de água fervente para "lavar" quer a varinha mágica quer o copo medidor e deitando essa água de "lavagem limpa" também para dentro da panela. Mexa o caldo com a ajuda de uma colher de pau para que o azeite, o sal e os cominhos se misturem com o caldo do feijão reduzido a puré. Reserve.

Faça cortes poucos profundos ao longo dos ossos do entrecosto e parta 1/2 linguiça longitudinalmente, retirando-lhe de seguida a pele. Coloque a carne e o enchido dentro da panela de pressão e garanta que toda a carne fica coberta pelo caldo (a quantidade de caldo dentro da panela deve ser suficiente para cobrir as carnes, mas não devendo ter água em demasia) e acenda o lume. Deixe ferver e de seguida coloque a tampa da panela, fechando-a para cozinhar as carnes em pressão. Deixe cozinhar em lume alto com a tampa bem fechada até ouvir um silvo forte, depois reduza para lume brando e deixe cozinhar por 15 minutos. Após este tempo, retire a panela do lume e deixe sair todo o vapor antes de abrir a panela.

Enquanto as carnes cozinham, prepare os vegetais que vai usar na sopa: lave bem a couve galega e corte-a em juliana fina *, descasque as cenouras e corte-as às rodelas e lave bem as batatinhas e corte-as em pequenos cubos (deixando a pele). Deixe tudo dentro de água até que as carnes acabem de cozer, para que as batatas não oxidem.

* Sugestão: Sempre que compro couve galega, costumo lavá-la logo de seguida e cortá-la em juliana fina. Escorro bem a água e coloco-a dentro de sacos de congelação dividida pelo peso que uso para as várias sopas que costumamos comer cá em casa. Depois é só tirar o(s) saco(s) do congelador na altura de a introduzir na sopa e já está! Muito rápido e muito prático!

Após o tempo de cozedura da carne e que o vapor tenha saído todo, abra a tampa da panela e coloque-a de novo ao lume (médio). Adicione a restante água previamente fervida, prove o caldo, corrija o sal, mexa tudo e volte a provar (corrija de novo o sal se necessário, até que a sopa esteja ao seu paladar). Adicione depois noz moscada acabada de moer a gosto e mexa. Deixe voltar a ferver e adicione as cenouras e as batatas bem escorridas. Deixe cozinhar por 5 minutos em lume brando. Após este tempo adicione a couve galega (previamente escorrida), espere voltar a ferver e deixe cozinhar por 15 minutos também em lume brando. Terminado este tempo, prove a couve para se certificar que está quase cozida e se sim, apague o lume, adicione o resto do feijão encarnado, envolva tudo suavemente e deixe repousar cerca de 5 minutos com a tampa colocada.

Sirva bem quente, com a carne e a linguiça partida em pedaços (dentro da sopa ou num prato à parte) e acompanhada com fatias de pão tipo alentejano.


Bom Apetite!


2 comentários:

Mª João - Ponto de Rebuçado Receitas disse...

Adoro sopa da pedra, adoro sopas " de entulho" no geral, mas cá por casa, os homens preferem os cremes... Ficou com um aspeto ótimo!
Beijinhos

Ivete Pereira Hipólito | blog COMIDAcomPAIXÃO disse...

Curioso utilizar o termo "sopas de entulho", pois é um termo muito usado por mim e pela mãe, mas que verifico não fazer muito sentido para muita gente! A Mª João é das nossas! ;)

Cá em casa também era assim há uns anos... Só sopas passadas, pois as de "entulho" e ainda mais as que contivessem carnes eram estranhíssimas, rsssssss... Mesmo assim sempre as fiz só para mim e em muito pouca quantidade, mas comecei a verificar que ela desaparecia sem que fosse eu a comê-la! Estava visto que havia quem gostasse, mas não assumisse... E fui fazendo mais quantidade, em vegetais e em carne, e mesmo assim ela continua a desaparecer! :D :D

Obrigada pela visita e pelo comentário sempre motivador e simpático! Beijinhos de volta para si e bom fim de semana!